CRIAÇÃO, DOM A PRESERVAR
Para que as riquezas da criação sejam preservadas, valorizadas e postas à disposição de todos, como precioso dom de Deus.
Sempre houve desastres naturais que causam prejuízos e estragos à população mundial. A diferença da situação actual está em que começamos a tomar consciência que os males climáticos que nos afectam têm, em muitos casos, causas humanas. O poder do homem sobre a natureza é, hoje, pela primeira vez na história, uma ameaça contra a própria sobrevivência. Esta ameaça ganhou terreno entre os dirigentes políticos, se bem que continue a haver quem negue a validez das conclusões que atribuem o aquecimento global e as mudanças climáticas a causas humanas.
«Cuidar da criação – afirmou o Papa na Mensagem do Ano Novo de 2010 – tornou-se, hoje, essencial para a convivência da humanidade». Mas há muito caminho a percorrer, como o demonstra o fracasso da cimeira ecológica de Copenhaga, em Dezembro de 2009, onde dominaram os interesses económicos das nações poderosas, que impediram que se alcançassem acordos mais significativos.
Justiça e ecologia
Hoje em dia, o discurso sobre a justiça social inclui, necessariamente, o tema ecológico e o tema ecológico não pode deixar de fora a promoção da justiça. As duas realidades condicionam-se mutuamente, como ensina a Doutrina Social da Igreja. Verificamos que as nações que mais consomem e, portanto, mais contaminam, não são as que mais sofrem os danos causados à criação. As consequências são pagas, e em bem alto preço, pelos mais pobres que têm menos possibilidades de se defender das mudanças climáticas. É o que acontece, por exemplo, com a desflorestação ilegal de grandes extensões em países pobres.
Verificamos, assim, que numerosas pessoas em muitos países e regiões do planeta sofrem crescentes dificuldades, por causa da negligência e inclusive rejeição por parte de tantos governantes no que diz respeito ao meio ambiente. Por isso, afirma o Concílio Vaticano II que «Deus destinou a terra e tudo o que ela contém, para uso de todos os homens e povos» (Gaudium et spes, 69).
Problemas ligados com a ecologia
Devemos ter em conta que não se pode avaliar a crise ecológica separando-a dos problemas ligados a ela, já que está vinculada ao conceito mesmo do desenvolvimento. Exige-o o «estado de saúde» ecológico do nosso planeta. Requere-o também, e sobretudo, a crise cultural e moral do homem, cujos sintomas estão patentes em todas as partes do mundo.
A humanidade necessita de uma profunda renovação cultural e moral, precisa de desenvolver aqueles valores que constituem o fundamento sólido sobre o qual construir um futuro melhor para todos. As situações de crise que a humanidade está a atravessar são também, no fundo, crises morais relacionadas entre si.
Estas obrigam a repensar o caminho comum dos homens. Obrigam, em particular, a um modo de viver caracterizado pela sobriedade e solidariedade, com novas regras e formas de compromisso. Só deste modo a crise actual se transformará numa ocasião de discernimento e de novas projecções.
Apelo aos cristãos e a todos os homens
Ainda que o apelo a uma sã ecologia se dirija a todos os homens de boa vontade, este apelo é dirigido de um modo especial, e por várias razões, aos cristãos. O cristão considera o cosmos e as suas maravilhas à luz da obra criadora de Deus Pai e da redenção de Cristo, o qual, com a sua morte e ressurreição, reconciliou com Deus «todos os seres, os do céu e os da terra» (Col 1, 20). Cristo crucificado e ressuscitado entregou à humanidade o Espírito santificador, que guia o caminho da história, à espera do dia em que, com a vinda gloriosa de Cristo, serão inaugurados «o novo céu e a nova terra» (2 Ped 3, 13), nos quais habitará sempre a justiça e a paz.
É este o desafio urgente que deve ser encarado de modo unânime com um renovado compromisso. É esta a oportunidade providencial a legar às novas gerações e que constitui a melhor perspectiva para todos.
Conclusão
O tema ecológico é, hoje, iniludível na agenda política, cultural, artística… como também na agenda religiosa e eclesial. Está presente na luta dos cristãos por um mundo mais justo, no diálogo ecuménico, nos nossos programas de formação, etc.
A intenção da oração do Papa neste mês apela à nossa responsabilidade de salvaguardar a criação para as gerações futuras. Aponta também para a necessidade de uma revisão profunda e com visão de futuro do modelo de desenvolvimento, reflectindo também sobre o sentido da economia e da sua finalidade, a fim de corrigir as suas disfunções e distorções.
Oremos este mês, juntamente com o Papa, para unir a nossa força espiritual a tantas pessoas que lutam para defender a beleza da criação para utilidade de todos, especialmente para os que virão depois de nós.
Intenção Missionária
PARA QUE TODOS SEJAM UM
Para que os cristãos cheguem à plenitude da unidade, testemunhando assim, a toda a humanidade, a paternidade de Deus.
A intenção missionária deste mês é motivada pelo Oitavário de oração pela unidade de todos os cristãos, celebrado entre os dias 18 e 25.
«Para que todos sejam um como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti… a fim de que o mundo acredite que Tu Me enviaste», pediu Jesus na Última Ceia, exprimindo o seu grande desejo de que aqueles que haviam de acreditar n’Ele vivessem unidos uns aos outros. De facto, o desejo de anunciar Cristo aos outros, e levar ao mundo uma mensagem de reconciliação, faz-nos sentir a contradição da divisão dos cristãos.
Num mundo cada vez mais secularizado e indiferente a Deus, quando não hostil; perante o crescimento do fanatismo e da intolerância, por parte dos que se dizem religiosos; diante dos graves desafios da inumana pobreza e as graves injustiças do mundo, resulta cada vez mais absurda e sem sentido a falta de unidade entre os seguidores de Cristo.
A divisão entre os cristãos constitui um grave anti-testemunho. Com efeito, como poderão os não crentes acolher o anúncio do Evangelho, se os cristãos, ainda que se refiram ao mesmo Cristo, estão em desacordo entre eles? A comunhão e a unidade entre os discípulos de Cristo é uma condição particularmente importante para uma maior credibilidade e eficácia do seu testemunho.
Não faltam, infelizmente, questões que nos separam uns dos outros, mas existe um conteúdo central da mensagem de Cristo que podemos anunciar juntos: a paternidade de Deus, a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, a confiança na acção transformadora do Espírito. É neste conteúdo que devemos centrar-nos, deixando outros aspectos que, ao fim e ao cabo, são muito menos importantes.
O compromisso da unidade dos cristãos não é só de alguns, nem uma actividade acessória da Igreja. Cada um é chamado a dar o seu contributo, sobretudo por meio da oração. Se nós, membros do Apostolado da Oração, nos unirmos, poderemos contribuir, eficazmente, para que cresça a unidade entre todos os cristãos.
António Coelho, s.j.
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