Homilia: Vigília Pascal
Esta é a noite!
Essa noite santa não está feita para se dormir! Os filhos de Deus estão convidados a velar, a permanecer em oração esperando a vinda do seu Senhor ressuscitado. Seja essa primeira observação uma exortação. Não aconteça que tenhamos trabalhado em vão durante os dias que precederam a Ressurreição do Senhor. Como dizia S. Bernardo de Claraval: “os amantes do mundo e inimigos da cruz de Cristo, de quem receberam em vão o nome e chamam-se cristãos, desejam durante todo o tempo da Quaresma que cheguem os dias da ressurreição. Ai deles! Desejam entregar-se mais livremente aos próprios deleites. Uma matéria tão triste escurece a alegria desta solenidade. Choramos com a injúria que se faz a essa solenidade, e nem podemos dissimulá-la (…). Que dor! A ressurreição do Senhor transformado em tempo de pecar, para voltar a cair. Voltam às glutonerias e bebedeiras, aos segredos ilícitos, às fornicações e impurezas, e dão rendas soltas às paixões. Jesus não ressuscitou para isso, mas para a nossa justificação”.
Renovados em Cristo, não podemos mais dormir pelo sopor dos vícios e dos pecados, mas continuar lutando para que a luz que levamos hoje em nossas mãos seja, verdadeiramente, símbolo da luz que levamos nos nossos corações, Cristo. O belíssimo canto do “exsultet” que escutamos nesta noite canta a vitória de Cristo e a nossa vitória nele.
O texto litúrgico do “exsultet” começa com um convite à exultação, não a uma simples alegria, mas aos transportes de gozo e de felicidade expressados com essa palavra: exultação. Anjos e homens, toda a criação se junta para cantar os louvores do Rei eterno. Depois vai narrando acontecimentos da história sagrada: recordam-se vários eventos salvadores do Antigo Testamento relacionados com Adão e com Moisés enquanto figuras de Cristo que viria para salvar-nos. “Esta é a noite”, a expressão aparece frequentemente: noite da liberação, da coluna de fogo protetora, da graça e da restituição, da vitória de Cristo, do gozo e da alegria, do sacrifício da Igreja, da glória de Deus, da felicidade, da união do céu com a terra e do divino com o humano. Esta é a noite! Como essa noite não há nenhuma no ano.
Nessa noite nós não temos nenhuma pressa. Estamos na Igreja com os nossos irmãos, reunidos para escutar a Palavra de Deus desde a criação do mundo até a nova criação que é a ressurreição de Jesus. Nós também fomos re-criados pela graça de Deus em virtude dos mistérios da paixão, morte e glorificação de Cristo. Não queremos dormir! Agora não! Celebraremos os louvores de Jesus ressuscitado.
Depois de tantas noites… de farras, de bebedeiras, de sair com os amigos, de curtir a vida (como se diz), de agitar, de inquietar-se, de trabalhos e de lágrimas. Depois de tantas noites, Deus nos pede esta noite para que estejamos com ele. Depois da Vigília Pascoal, ou seja, depois de escutar que Cristo já ressuscitou iremos às nossas casas e dormiremos. Mais, mesmo dormindo, o nosso coração continuará em vela (cfr. Ct. 5,2).
Os dias passam, vamos crescendo em idade e nos perguntamos o que foi que nós já fizemos de grande nessa vida. Talvez não encontraremos nada de especial. No entanto, nunca é tarde para recomeçar, nunca é tarde para tentar de novo fazer algo útil na vida, nunca é tarde para quem deseja começar a andar pelos caminhos do verdadeiro amor. Algo grande? Sim. Trata-se de realizar com grandeza de espírito as coisas mais pequenas do dia-a-dia, refiro-me ao heroísmo do cotidiano e das coisas mais correntes do nosso existir.
Não! A Ressurreição de Jesus não pode ficar a dois mil anos da história, da nossa história. Ou ressuscitamos com Jesus ou essas festas não terão tido o fruto que Deus pedia de nós. A partir de hoje teremos 50 dias de festa, que é um só dia. Caso ainda não tenhamos pensado as coisas segundo o Coração de Deus, tarefa para toda a vida, ainda podemos começar… nunca é tarde! Cristo ressuscitou e nos espera de braços abertos. Ele nos levará ao encontro do Pai.
Pe. Françoá Costa
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