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quinta-feira, abril 28, 2011

Sacerdote para eternidade - I Parte



Há dias, ao celebrar a Santa Missa, detive-me um breve momento para considerar as palavras
de um salmo que a liturgia punha na antífona da Comunhão: O Senhor é o meu pastor, nada
me poderá faltar. Esta invocação trouxe-me à memória os versículos de outro salmo, que se
recitava na cerimónia da Primeira Tonsura: o Senhor é a parte da minha herança. O próprio
Cristo põe-se nas mãos dos sacerdotes, que se fazem assim dispensadores dos mistérios -
das maravilhas – do Senhor. No próximo Verão receberá as Sagradas Ordens meia centena de
membros do Opus Dei. Desde 1944 sucedem-se, como uma realidade de graça e de serviço à
Igreja, estas ordenações sacerdotais de alguns membros da Obra. Apesar disso, todos os anos
há gente que se espanta. Como é possível, interrogam-se, que trinta, quarenta, cinquenta
homens, com uma vida cheia de afirmações e de promessas, estejam dispostos a ser
sacerdotes? Queria expor hoje algumas considerações, mesmo correndo o risco de aumentar
nessas pessoas os motivos de perplexidade.

Porquê ser Sacerdote?

O santo sacramento da Ordem Sacerdotal será ministrado a este grupo de membros da Obra,
que contam com uma valiosa experiência – talvez de muito tempo – como médicos, advogados, engenheiros, arquitetos ou de outras diversíssimas atividades profissionais. São homens que, como fruto ,do seu trabalho, estariam capacitados para aspirar Ia postos mais ou menos relevantes na sua esfera social.

Vão ordenar-se para servir. Não para mandar, não para brilhar, mas para se entregarem, num
silêncio incessante e divino ao serviço de todas as almas. Quando forem sacerdotes não se
deixarão arrastar pela tentação de imitar as ocupações e o trabalho ,dos leigos, mesmo que se
trate de tarefas que conheçam bem por as terem realizado até agora, o que lhes conferiu uma
mentalidade laical que não perderão nunca.

A sua competência nos diversos ramos do saber humano – da história, das ciências naturais,
da psicologia, do direito, da sociologia -, embora faça parte necessariamente dessa mentalidade laical, não os levará a quererem apresentar-se como sacerdotes-psicólogos,
sacerdotes-biólogos ou sacerdotes-sociólogos. Receberam o sacramento da Ordem para
serem, nem mais nem menos, sacerdotes-sacerdotes, sacerdotes cem por cento.

É provável que sobre muitos assuntos temporais e humanos, entendam mais do que muitos
leigos. Mas, desde que são sacerdotes, calam com alegria essa competência para continuarem
a fortalecer-se espiritualmente através da oração constante, para falarem só de Deus, para
pregarem o Evangelho e administrarem os sacramentos. Este é, se assim se pode dizer, o seu
novo trabalho profissional, ao qual dedicam todas as horas do dia, que sempre serão poucas,
porque é preciso estudar constantemente a ciência de Deus, orientar espiritualmente tantas
almas, ouvir muitas confissões, pregar incansavelmente e rezar muito, muito, com o coração
sempre posto no Sacrário, onde está realmente presente Aquele que nos escolheu para
sermos seus, numa maravilhosa entrega cheia de alegria, inclusivamente no meio de
contrariedades, que a nenhuma criatura faltam.

Todas estas considerações podem aumentar, como vos dizia, os motivos de admiração. Alguns
continuarão talvez a perguntar a si mesmos: mas porquê esta renúncia a tantas coisas boas e
nobres da terra, a uma profissão mais ou menos brilhante, a influir cristãmente, com o exemplo, no âmbito da cultura profana, do ensino, da economia, ou de qualquer outra atividade social?

Outros ficarão admirados lembrando-se de que hoje, em não poucos sítios, grassa uma
desorientação notável sobre a figura do sacerdote; apregoa-se que é preciso procurar a sua
identidade e põe-se em dúvida o significado que, nas circunstâncias atuais, possa ter a
entrega a Deus no sacerdócio. Finalmente, também poderá surpreender alguns que, numa
época em que escasseiam as vocações sacerdotais, estas surjam entre cristãos que já tinham
resolvido – graças a um trabalho pessoal exigente – os problemas de colocação e trabalho no
mundo.

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