Bento XVI aos sacerdotes (IV): não ao clericalismo
CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 18 de junho de 2010 – Viver de modo autêntico a Eucaristia é o melhor antídoto contra uma tentação que acomete a Igreja desde sempre: o clericalismo, o viver alienado da realidade do mundo numa “urna protegida” no seio da Igreja.
Assim respondeu Bento XVI à pergunta colocada pelo sacerdote japonês Atsushi Yamashita, em nome dos presbíteros da Ásia, durante a vigília de encerramento do Ano Sacerdotal realizada em 10 de junho passado em Roma.
“Sabemos que o clericalismo tem sido uma tentação para os sacerdotes ao longo dos séculos, e permanece hoje; por isso é tão importante encontrar a forma verdadeira de viver a Eucaristia, que não é fechar-se para o mundo, mas é precisamente uma abertura para as necessidades do mundo”, afirmou o Papa.
A questão, explicou, é “como viver a centralidade da Eucaristia sem se perder numa vida puramente cultual, alheia ao cotidiano das demais pessoas”.
Para viver adequadamente a Eucaristia, explicou Bento XVI, “devemos ter em mente que na Eucaristia se realiza o grande drama de Deus que sai de si mesmo”.
Neste sentido, a Eucaristia “deve ser considerada como entrar neste caminho de Deus”: o sacrifício consiste precisamente em sair de nós mesmos, em nos deixar atrair para a comunhão do único pão, do único Corpo, e assim ingressar na grande aventura do amor de Deus”.
“Viver a Eucaristia em seu sentido original, em sua verdadeira profundidade, é uma escola de vida, é a proteção mais segura contra toda forma de clericalismo”.
“A Eucaristia é, em si, um ato de amor, e nos obriga a esta realidade do amor pelos demais: que o sacrifício de Cristo é a comunhão de todos em seu Corpo. E, portanto, devemos aprender a Eucaristia, que é precisamente o contrário do clericalismo, do fechar-se em si mesmo”, acrescentou.
O Papa mencionou ou exemplo de Madre Teresa, de “um amor que abandona a si mesmo, que abandona todo tipo de clericalismo e de alienação em relação ao mundo, que vai até os mais marginalizados, os mais pobres, até as pessoas à beira da morte, e que se entrega totalmente ao amor pelos pobres, pelos marginalizados”.
“Sem a presença do amor de Deus que se doa, não seria possível realizar este apostolado, e não seria possível viver neste abandono de nós mesmos; apenas inserindo-se neste abandono de si em Deus, nesta aventura de Deus, nesta humildade de Deus, é que se poderia e se pode levar a cabo este grande ato de amor, esta abertura para todos”, concluiu o pontífice.
Diác. Agnaldo Bueno / Zenit
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